Durante minha vida, alguns fatos, pela impressionante
coincidência de certos acontecimentos, deixaram-me a certeza da presença de
Deus. Acredito que nada nos acontece por acaso, ou mera sorte. Quando uma
coincidência de fato ocorre, para nos aliviar da aflição ou em nosso socorro
num momento de perigo, não é nada mais nada menos do que Deus tocando nosso
ombro, sussurrando ou, às vezes, até mesmo gritando: “Eu estou aqui! Estou ao seu lado!”
A
presença de um médico amigo e prestativo, à saída do Hospital Santa
Isabel de Taubaté, em 1972, quando eu chegava para buscar assistência a meu
filho Luiz Gustavo, vítima de colisão de sua bicicleta com outro veículo, foi
uma dessas providenciais coincidências.
Outra
ocorreu muitos anos depois, em setembro de 2011, quando minha filha Renata Maria
acidentou-se em grave colisão noturna na Fernão Dias, com perda total de seu
veículo. Perdera os sentidos e permanecera inconsciente algum tempo, fixa em
seu assento de motorista, de cabeça para baixo, quando anjos do asfalto,
prontamente, socorreram-na em ambulância. Na ocasião, adotaram todas as
cautelas devidas, afastando, assim, maiores conseqüências que poderiam provocar
terríveis seqüelas em minha caçula.
Em
sua excelente obra, “Pequenos Milagres”, de autoria de Yitta Halberstam e
Judith Leventhal, da Editora Sextante, 8ª edição, páginas 19 e 20, é narrado um
fato sobretudo impressionante. Vale a pena sua menção neste “blog”, o que faço
para recomendar sua leitura àqueles que me honram com suas visitas.
“Eu estava caminhando por uma rua mal
iluminada, tarde da noite, quando ouvi gritos abafados vindos detrás de um
grupo de arbustos. Alarmado, segui mais devagar para poder escutar e entrei em
pânico quando percebi que o que estava ouvindo eram os ruídos inconfundíveis de
uma luta; grunhidos fortes, esforços desesperados, tecido sendo rasgado. A
metros de onde eu estava parado, uma mulher estava sendo atacada.
Será que eu deveria me envolver?
Estava apavorado, temia por minha própria segurança e amaldiçoei minha súbita
decisão de fazer um trajeto diferente para casa naquela noite. E se eu me
tornasse mais um número nas estatísticas? Será que não deveria simplesmente
correr até o telefone mais próximo e chamar a polícia?
Embora parecesse uma eternidade, as
deliberações na minha cabeça demoraram apenas segundos, mas os gritos da garota
já estavam ficando mais fracos. Eu sabia que precisava agir com rapidez. Como
poderia me afastar de uma situação semelhante? – Não! Resolvi finalmente, eu
não daria as costas ao destino dessa mulher desconhecida, mesmo que isso
significasse arriscar minha vida.
Não sou um homem valente, nem
atlético. Não sei onde encontrei a coragem moral e a força física, mas, quando
finalmente decidi ajudar a garota, senti uma estranha transformação. Corri para
trás dos arbustos e arranquei o agressor de cima dela. Engalfinhados, caímos no
chão, onde lutamos alguns minutos até que o agressor deu um salto e fugiu.
Ofegante, pus-me de pé com dificuldade e me aproximei da garota que estava
soluçando, agachada, atrás de uma árvore. Na escuridão, eu mal via sua
silhueta, mas sem dúvida percebia como tremia do choque.
Sem querer assustá-la, disse-lhe em
tom tranqüilizador: ‘O homem fugiu. Agora você não corre mais perigo!’
Houve um longo silêncio e então ouvi
suas palavras, ditas com espanto, com assombro:
- ‘Papai, é você?’
E então, detrás da árvore, saiu
minha filha mais nova, Katherine” (Greg O´Leary).
Comentário das escritoras sobre o fato:
“Muitas pessoas temem que suas boas ações não
sejam recompensadas. Com freqüência ouvimos a máxima cínica: ‘Toda boa ação
será castigada.’ No entanto, esse é
um nítido exemplo de que muitas vezes é exatamente o oposto o que acontece. Ao resolver arriscar a vida por uma
desconhecida, o pai acabou salvando a vida da própria filha. E, na sua
determinação de ajudar o outro, o pai descobriu a espantosa força e o poder da
vontade. Em circunstâncias normais, ele não teria sido capaz de reunir a força
física necessária para repelir o estuprador. No entanto, sua vontade era tão
grande que ele tirou forças de uma fonte desconhecida e não utilizada. Nós temos capacidades das quais nem nos
damos conta. Ao se dispor a fazer o bem a outra pessoa, esse homem fez algo
maravilhoso para si mesmo.”
Borda da Mata, 29 de agosto de 2.013.
Gustavo
Dantas de Melo
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