Existem
dois estilos de vida nas grandes e pequenas cidades. Difícil dizer qual deles é
o melhor. Depende da individualidade de cada pessoa. Talvez a preferência venha
a ser o resultado da vivência peculiar a cada um de nós. A escolha é sempre uma
opção que se faz segundo critérios e valores de cunho estritamente particular.
A grande cidade se caracteriza pelo
anonimato. Como diz antigo ditado popular: “Cada um para si e Deus para nós todos”. Ninguém conhece
ninguém. Até o morador de um prédio de apartamentos muitas vezes ignora os seus
vizinhos, exceto o síndico e o porteiro, por força de suas profissões.
Como ninguém conhece ninguém, a pessoa
se sente menos policiada e, conseqüentemente, imune à maledicência das línguas
soltas. Experimenta uma sensação de maior liberdade de suas ações. Isso é muito
bom e positivo, pois a liberdade é um dos mais preciosos dons do ser humano.
A outra face da moeda, porém, sombria e dolorosa, é a
prisão em que, infelizmente, se transformou a grande cidade. A sensação de
insegurança é uma realidade decorrente da violência assustadora e criminosa,
própria das metrópoles. A convivência é de medo e desconfiança. Por isso mesmo,
se alguém cai na rua, enfartado, corre o risco de não ser socorrido, em virtude
do receio popular de que talvez seja alguma armadilha arquitetada por esperto
bandido. Esse é o lado mau e tristemente negativo!
Já a pequena cidade, como Borda da
Mata, terra em que nasci, com aproximadamente 18.000 habitantes, se caracteriza
pela pessoalidade e conhecimento próprio. Todos são chamados pelo nome e se
sentem valorizados como “alguém”
considerado, ao invés de simples números. Isso é muito bom e faz bem ao ego! O
sentido de união é acentuado pela convivência das pessoas em torno de ideais
comuns e campanhas participativas. Até as dores e sofrimentos são amenizados
pela solidariedade fraterna, como nos momentos difíceis em que a enfermidade
nos atormenta, ou quando perdemos algum ente querido. Daí ser poético, mas,
sobretudo, verdadeiro, o verso revelado pela sensibilidade do poeta que
externou esse sentimento:
“Na
terra natal, a própria dor dói menos...”.
Contudo, há que se reconhecer aspectos negativos, próprios da pequena
comuna: o “disse-me-disse”, o
falatório dos detratores da honra alheia; o “leva e traz” daqueles que, sadicamente, sentem prazer em tecer comentários
maldosos a respeito de questões que não lhe dizem respeito; o veneno
destilado pelos invejosos, que, incompetentes, sofrem com o sucesso dos
empreendimentos alheios. Alguns cidadãos chegam a sofrer perseguições pelo
simples fato de serem bem sucedidos. A inveja é algo muito sério que faz cegar
a muitos invejosos que insistem em não enxergar méritos e virtudes em quem os
possui de sobra. Em sua mediocridade, não se conformam com o êxito e valor dos
outros.
Os rancores
políticos, então, revelam personalidades mórbidas, que, infelizmente, vêem como
inimigos simples adversários. Ofensas e ataques pessoais, gratuitos e absurdos,
pelo simples fato de alguém abraçar idéias e posições contrárias ao agressor.
Como se a Democracia não assegurasse o direito à liberdade de escolha dos
partidos e candidatos! Como se a oposição não fosse necessária e imprescindível
à defesa dos interesses da sociedade!
Em qual
desses tipos de cidade é preferível alguém morar?
A resposta é estritamente pessoal e vai depender do
tipo de vida de cada um, pois, “cada
cabeça, cada sentença”. Eu passei pela experiência dos dois modelos de
convivência e minha opção foi para a pequena cidade.
Como alguém já disse, e muito bem, “ninguém escolhe lugar para nascer”,
mas desde que possível, creio que toda pessoa gostaria de escolher o lugar para
viver. É o meu caso. Embora goste muito da inesquecível cidade de Mogi das
Cruzes/SP, onde vivi boa parte de minha vida (16 anos), após minha
aposentadoria, decidi retornar para minha modesta terra natal, onde conheço
praticamente a todos e a recíproca é verdadeira. Tenho adversários, mas não
inimigos; felizmente, incontável é o número dos meus amigos. Todo rosto me
parece familiar e me sinto perfeitamente integrado em nossa comunidade
paroquial e social. Por esse motivo, aqui minhas alegrias são sempre
multiplicadas e as tristezas suavizadas.
Borda da
Mata, eu te amo! Em tuas terras,
onde nasci e sou feliz, quero que um dia repousem os meus restos mortais! Este
é o desejo que peço a meus descendentes seja concretizado.
(Extraído da obra "Farpas do Coração", de autoria de Gustavo Dantas de Melo, Editora APMP, Ano 2.009, páginas 17/19)