Hoje, trago para os amigos crônica de meu colega, Darly Viganó, procurador de justiça aposentado do Ministério Público de São Paulo. Trata-se de um homem de grande valor. Seus escritos, publicados pela Associação Paulista do Ministério Público (APMP), revelam notável personalidade, erudição e incomparável senso de humor. Sou seu fã e admirador, embora não o conheça pessoalmente. Por essa razão, peço-lhe vênia e honra de publicar em meu "blogger" tão agradável e rica matéria:
“Uma
vida tranquila e modesta traz mais alegria do que uma busca de sucesso ligada
ao constante descontentamento” .
"O texto é de Albert Einstein e foi escrito de próprio
punho por ele em nota agora levada a leilão, em Tóquio, onde alcançou a
significativa importância de um milhão e quinhentos e sessenta mil dólares. O
que causa espanto nesse fato – os leiloeiros previam arrecadação no máximo de
oito mil dólares – é que, muito mais importante do que o valor financeiro
alcançado pelo papel escrito pelo notável físico e pensador, é o valor
intrínseco de sua teoria da existência feliz, retratada na aludida nota, ainda
mais no contexto destes tempos de ritmos alucinadamente velozes. Não que se
deva desprezar o valor histórico do documento, cuja preservação constitui forma
adequada de se homenagear aquele que foi, sem sombra de dúvida, uma das mais
notáveis personalidades do século passado.
O engano parece estar na maior importância conferida,
como se pode deduzir pelo elevado preço alcançado no leilão, ao instrumento do
que à mensagem em si, em evidente inversão de valores. Com efeito, será que o
abonado arrematador do referido papel, cujo diletantismo parece ser o acúmulo
de bens, é realmente feliz? O medo, razoável nestes tempos ora vividos, de que
alguém lhe surrupie os bens ou de que eventual incêndio reduza tudo a cinzas,
não lhe seria, como disse o célebre autor da nota, fator de “constante
descontentamento”?
De fato,
aqueles que, por exemplo, possuem muitos imóveis alugados, estão sempre às
voltas com problemas como vazamentos nos prédios, reformas urgentes – que tudo
envelhece, pois a ação do tempo é implacável –, inquilinos inadimplentes,
necessidade de se recorrer à Justiça e muito mais, se não vivem em completa
intranquilidade, pelo menos têm o sossego bastante comprometido. Daí Einstein
falar, no texto em exame, em “vida tranquila e modesta”, vale
dizer, em que não se precisa de muito para ser feliz.
É justa e compreensível, reconheço, a aspiração de se
ter moradia confortável, com todos os “recheios” úteis destes tempos modernos,
refrigerador, “freezer”, máquinas de lavar e secar, carro em boas condições de
tráfego, ainda que todos esses bens também tenham um custo. Mas, estou convicto
de que não são eles nem o único e muito menos o principal vetor da felicidade
temporal buscada por todos. Basta lembrar dos índios, principalmente daqueles
ainda isolados nas vastidões amazônicas, que vivem em contacto íntimo com a
natureza, sem roupas, sem casas de alvenaria, sem nenhuma das bugigangas
modernas e no entanto... felizes!
Esse é um tema que me preocupa bastante, tanto que
cheguei a discutir com a esposa se não conviria que vendêssemos tudo e fôssemos
morar no interior da mata atlântica, plantando nossa horta e nossos frutos,
longe do bulício estressante da vida moderna. A casa seria de madeira, bem
confortável, mas com fogão à lenha, ao lado de riacho em que pudéssemos pescar
alguns peixes. E cujo marulho fosse a permanente música invadindo tudo. Por
outro lado, o despertador seria o canto matinal do galo de pequeno galinheiro
ao lado da cabana. Enfim, vida tranquila e modesta, como recomendou Einstein.
“A manicure poderia ir até lá para me fazer as
unhas?”, perguntou-me ela. Só me atrevi a responder com tímido balançar de
cabeça. “É tudo muito romântico, mas não vou e nem deixo você ir sem mim”. Tive
que obedecer e desistir da ideia. Há muito tempo aprendi verdade essencial à
felicidade dos homens: não convém nunca discutir com as mulheres..." Darly Viganó darly.vigano@gmail.com