A matéria ora trazida para meu "blog" foi publicada, há 15 anos; todavia, apesar do longo tempo decorrido, ainda tem sabor de atualidade. A corrupção parece ser um mal incurável, arraigado nos costumes políticos. Mas ainda há esperança de que um dia haja mudança de mentalidade e surjam líderes capazes de transformar o nosso país.
"Desde os
tempos da escola primária, aprendemos que o Brasil é um país “gigante”,
porém, “deitado eternamente em berço esplêndido”. De fato, somos um país
continental, de imensas e incalculáveis riquezas naturais e terras cultiváveis.
Não temos vulcões, nem sofremos as conseqüências da fúria de furacões, abalos
sísmicos, ódios, conflitos, revoluções e guerras.
A despeito de
todo esse potencial fabuloso, das condições favoráveis da natureza e ainda
favorecidos pela índole pacífica de nossa gente, o Brasil não acorda do sono
que o entorpece. Permanece deitado e não se levanta nunca, apesar do berço
esplêndido.
Por que não
são convenientemente exploradas essas terras e riquezas naturais?
Por que não
se consegue extrair daí os recursos para pagamento das dívidas externa e
interna?
- É que uma
nação onde a corrupção se escancara acintosamente nos altos escalões do
governo, favorecendo banqueiros e poderosos; onde os políticos não abrem mão de
suas mordomias, superfaturam obras e extorquem dinheiro até de miseráveis
camelôs; onde mesmo juízes cometem escândalos vergonhosos, parece não haver
salvação. A lição do saudoso jurisconsulto Rui Barbosa continua com o sabor de
indiscutível atualidade:
“... De
tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Nossa dívida
externa fica cada vez maior, apesar dos juros pagos em dolorosa sangria de
recursos que diminui os orçamentos da União, Estados e Municípios. Em
conseqüência, os programas de saúde, educação, transporte e assistência social
são sacrificados e, não bastasse isso, o sofrimento do povo aumenta, porque o
governo obriga empresários, funcionários e assalariados a pagar a conta e
cobrir todos os rombos dessa orgia de gastos públicos. Não há política
econômica por mais eficiente capaz de tapar o ralo da corrupção, por onde
escorre o dinheiro do nosso país.
Até quando
vamos ouvir falar em crise, falências, favorecimentos, corrupção, escândalos e impunidade? Haverá
remédio para o mal de que padece o Brasil?
- Acredito,
sinceramente, que não há solução de curto prazo. A doença é crônica e a
engrenagem política, cancerosa e podre, cheira mal. A cura só virá a longo
prazo. É um problema de educação, de formação do cidadão
brasileiro, de modo a se conseguir uma mudança de mentalidade. O
surgimento de um novo Brasil, com políticos e governantes honestos, é tarefa de
muitos anos de trabalhos de pais, professores, educadores e homens de boa
vontade, forjando cidadãos honestos, de elevado padrão cívico e moral.
Infelizmente,
no Brasil vigora a famosa “Lei de Gerson”. A mentalidade do brasileiro é a de
“levar vantagem em tudo”. Não importa que o governo de qualquer nível fique
onerado, desde que o favorecido possa alcançar algum proveito, e - quem sabe -
dividir com algum outro parte do benefício indevidamente conseguido.
Do jeito que a
política é feita em nosso país, com as famosas barganhas: “toma lá, dá cá”;
“voto se você me der isto ou aquilo”; promessas de empregos e outras
benesses, afastando tantas vezes os mais competentes, não se pode esperar um
governo honesto e criterioso. A prática de favorecimento aos poderosos é a paga
da cobertura dos gastos da campanha política. Por isso que banqueiros sempre
mandaram e mandam em nosso país. O
superfaturamento de despesas e obras, a “caixinha” e outros expedientes
escusos nada mais são do que meios de recuperação do dinheiro investido na
compra de votos.
Quando isto
vai acabar?
- Só quando a
honestidade for a regra de ouro praticada por governantes e governados. Quando
cada cidadão se conscientizar de que o seu voto é questão de honra. Quando não
houver promessa, vantagem ou dinheiro capaz de comprá-lo.
O Brasil tem
jeito, mas, como é muito difícil mudar tudo isso, a solução só virá a longo
prazo.
Borda da Mata,
10 de maio de 1999."
Gustavo Dantas de Melo
(Texto extraído de meu livro "Reflexões", ano 2001, Editora APMP, páginas 165/166).