Ora ( direis ) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouvi-las,
muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto
E conversamos toda a noite,
Enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? "
E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas."
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
"Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!
Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!
Ouves? É o vento! É um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!
Morrerei de aflição e de saudade...
Espera até que o dia resplandeça!
Aquece-me com a tua mocidade!
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! Deixa que amanheça!"
Que de seu claro corpo me afastasse,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
A aurora, em fogo e sangue, as nuvens corta…
Que diria de ti quem me encontrasse?
Que pensariam, vendo-me, apressado,
Tão cedo assim, saindo à tua porta?
E todo pelo aroma de teu beijo
Escandalosamente perfumado?
Espera até que o sol desapareça!
Beija-me a boca! Mata-me o desejo!
Repousar, como há pouco repousava!
Espera um pouco! Deixa que anoiteça!”
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