O ser humano sonha muitas vezes em ser protagonista de um grande feito, quem sabe a prática de um ato de heroísmo, a realização de uma obra fantástica que lhe traga o sabor da realização pessoal. É lógico que tais projetos são válidos, desde que não se tornem uma obsessão.
Contudo, mais válido ainda é viver a realidade do que está facilmente ao nosso alcance. Afinal, a nossa vida é feita de pequenas ações, no dia a dia, mas que podem conseguir um grande objetivo. Por essa razão, todas as vezes que sou convocado a falar sobre “família”, não me canso em alertar, principalmente, sobre o valor dos “pequenos grandes gestos” no convívio familiar, tema escolhido para esta reflexão.
A felicidade e a realização pessoal que tanto buscamos, não são conquistadas com a fama e a posse de coisas materiais. Se assim fosse, Elvis Presley e Marylin Monroe, não teriam terminado tragicamente suas vidas com o suicídio. Elvis tinha tudo o que queria, várias mansões e dezenas de carros do último tipo. Marylin, símbolo sexual, linda, rica e famosa atriz, brilhava nas telas do cinema.
A felicidade, porém, como sabemos, não está no poder, no dinheiro, na beleza, por ser um estado de espírito, algo que se sente dentro do coração. Consiste simplesmente em amar e ser amado. Os psicólogos afirmam que o homem necessita mais de carinho do que pão. E o amor é constituído de pequenos grandes gestos e atenções, em razão do “querer bem” o outro.
Nesse particular, a melhor escola do amor é a família. É nela que temos a alegria de ser útil aos que amamos, de várias formas e maneiras. Ser pai (avô) e ser mãe (avó) é descobrir o sentido da vida. É ver no rosto dos filhos (as), depois dos netos (as), que nascem alguns dos traços da gente e, assim, sentir-se eternizando.
Acredito que dificilmente alguém poderá ser feliz sem família. Os presídios estão cheios de pessoas revoltadas e marginalizadas, porque lhes faltaram os fundamentos do amor familiar. Através dos crimes praticados, explodem em vítimas inocentes o ódio e a revolta que trazem em seu coração amargurado.
Quem não se recorda do colo aconchegante de sua mãe, daquela (e) que, a seu lado, vigilante, o (a) assistiu na doença, nas dificuldades e derrotas, da mão que afaga, do carinho dos filhos, da palavra de apoio e incentivo? Quem não gostaria de morrer, tendo ao seu lado a esposa, ou a (o) filha (o), segurando-lhe a mão ou enxugando-lhe as derradeiras lágrimas?
Quanto vale o trabalho de uma cozinheira, lavadeira, passadeira, costureira e faxineira? Evidentemente, tais serviços são valiosos e importantes na família e, dependendo das condições econômicas do casal, são tarefas que, antigamente, eram realizadas pelas mães. Os pais trabalhavam, via de regra, fora do âmbito familiar, porque a mulher ainda não competia no mercado de trabalho, como acontece modernamente.
Sem dúvida, na vida em família, que constitui uma sociedade, todos usufruem do trabalho de seus membros. Pai, mãe, filhos, irmãos, avós, netos, unidos pelos laços de sangue e de amor, têm inúmeras oportunidades de sentir a alegria de servir. Cada qual, sem egoísmo, deverá exercer sua missão, insubstituível, colaborando para o bem-estar e o sucesso de todos. É importante que cada um se conscientize de seus deveres e cumpra o seu papel, sem discriminações, de acordo com as possibilidades de cada família. O diálogo é indispensável para se entender as necessidades de seus membros e buscar as soluções que atendam os interesses de todos.
No saguão do prédio do Ministério Público de São Paulo, vê-se erguido um busto em memória de César Salgado, notável Promotor de Justiça, onde se lê a seguinte inscrição:
“Ministério Público, o zelo de tua causa me consumiu!”
Oxalá, possamos dedicar nossas vidas, principalmente aos familiares, de tal modo que, ao final da caminhada, possamos partir alegres de nos termos deixado consumir por tão nobre causa!
Borda da Mata, 03 de abril de 2012.
Gustavo Dantas de Melo
(Do meu livro "Reflexões", Edições APMP-2001- págs. 57/58)
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